quarta-feira, abril 05, 2006

Quando o tempo não tem significado


Foi um dia normal da semana, 3ª-feira. Geralmente fico em casa na ronha, a fazer nada. Olho meio desgostoso para a TV que não dá nada de jeito, olho para o msn sem que esteja alguém com quem conversar, e muitas vezes desejo que a noite passe depressa para estar novamente no trabalho com os meus colegas.


Não se pense que sou um viciado no trabalho, chama-se a isto tédio. O que esta 3ª-feira não teve de normal foi a noite. Fui sair (coisa rara ultimamente) com uma amiga com quem partilhei uma conversa feita de retalhos em que falámos de tudo e de nada, cujo conteúdo só pode ser apreciado através de algum distanciamento.


Tive a sorte de ter alguns momentos felizes em que conheci pessoas de destaque na importância que vieram a ter para a minha vida. Cada um deixou um legado, uma lição, um conselho. São amigos que me acompanham, alguns sem que os laços se mantenham, mas que nunca me deixarão nas minhas recordações, e na forma como foram importantes para que eu esteja aqui hoje.


Sempre que as amizades tomaram essas proporções e importância, basearam-se na capacidade de dar sem esperar nada em troca. Abrir as mãos, o coração, oferecer um ombro, partilhar tempo e espaço, por vezes um copo a mais. Seja qual for o pretexto, estamos presentes em qualquer altura, nas boas e nas más. Acompanhamos os momentos de glória e outros mais negros sem nos queixarmos.


O que de importante teve esta noite acabou de ser dito. Foi o estar presente quando alguém precisa de uma mudança ou uma distracção, falar sobre banalidades ou ter um diálogo mais sério. Na verdade não se agenda, faz-se o que apetecer na altura. São mãos e coração abertos, e com eles ver e sentir. O tempo perde significado, não são as horas de sono que ficaram para trás que contam. Importa é estar e ser. O quê não vou dizer. É pessoal, e não apenas para mim. Estar disposto a conhecer alguém e aceitá-lo como é, sem tecer criticas foi uma das lições que algum amigo me passou, e que eu tento transmitir também porque é importante demais para ser fechada a 7 chaves.


Contra tudo o que pretendi fazer neste blog, vou revelar um nome, apenas para que não reste dúvidas à pessoa visada de que é dela que estou a falar. O anonimato continua a ser suficiente.
Obrigado pela noite que me proporcionaste Vanessa. Foi um previlégio vislumbrar um pouco da tua pessoa, a que fica para lá do aspecto físico. Foi uma noite daquelas em que o tempo perdeu o significado, pelo menos para mim.


Dei-me a um prazer que já não é sempre que permito. Andei à volta da casa a conduzir, a inventar caminhos cada vez mais longos para voltar ao sitio onde acabei por estacionar, a porta do prédio onde vivo. Consegui converter uma distância de 2,5 Km em algumas dezenas, e soube muito bem estar a conduzir à chuva a ouvir rádio com as estradas vazias. É o que me acontece quando perco a noção temporal, esqueço-me do relógio e do que tenho para fazer no dia seguinte. Pode custar um bocadinho caro, mas logo se paga.


Hoje não se tratou de escrever sobre nada muito elaborado, sobre as altas esferas do pensamento ou sobre sentimentos formidáveis capazes de dar origem a uma obra de ficção. É um texto muito simples, sem pretenções nenhumas, tal como a pessoa que se encontrou diante de mim e que me permitiu passar um serão muito mais agradável do que as minhas 3ª's feiras normais. Espero perder a noção do tempo mais vezes, sempre que te sentires farta de estar em casa, ou por qualquer outro motivo.


Que me desculpe quem estava à espera de mais, mas hoje a simplicidade é raínha, e as minhas mãos estão abertas para uma pessoa em particular. Invoco o previlégio do autor, o de conduzir a história.

1 comentário:

Manjerona disse...

a simplicidade sabe tão bem...

Bolachinha