domingo, julho 30, 2006

Estrada para o Inferno


Todos temos alturas complicadas na vida, em que por vezes nos sentimos sem rumo. Como não sou estranho a essa caracetristica do ser humano, também eu atravesso as minhas, e esta calha a ser uma das tais.


Um dos meus albuns preferidos é o “Highway to Hell” dos ACDC. Gostos aparte, que nestas coisas cada um tem o seu, existem várias razões para que este albúm me agrade e até me faça ouvi-lo ad nauseum.


Hoje é mesmo pelo título. Se à coisa que me parece ter acontecido é ter entrado na autoestrada para o Inferno. Trabalho com fartura, perspectivas de vida pessoal e social inexistente durante os próximos tempos, lutar contra os esqueletos no armário. Acaba por se perder um pouco o Norte. Os amigos vão ajudando, mas quando o Inferno é cá dentro, faça-se o que se fizer, só nós é que podemos resolver o problema. E tipicamente não é só um.


O que fazer quando nos encontramos num caminho que não é dos mais agradáveis, em que os custos de voltar atrás são pesados demais, e até sentimos curiosidade sobre o lado negro do limbo?


Como dizia o Carlos Paião, “tá calado pá, refilar faz mal à visicula”. O Inferno não é menor pelo facto de nos queixarmos, não ficamos com menos bolhas nos pés ao fazer esse caminho, e ainda por cima aborrecemos quem viaja ao nosso lado na mesma estrada. Ora estar na estrada para o Inferno já pode ser mau o suficiente sem termos de andar a medir o que é mais duro, um punho fechado ou um maxilar.


Existe sempre a possibilidade de sorrir à Morte. Levar as coisas na desportiva, não permitir que o espírito desapareça, e até tentar com alguma boa disposição aliviar o sofrimento de quem nos acompanha na mesma viagem. Pensando bem, nunca se sabe quando vamos precisar de alguém que nos faça o mesmo.


Descobrir como se leva as coisas na desportiva pode ser complicado, dependendo do que já passámos, das pressões a que estamos sujeitos, da seriedade com que encaramos as responsabilidades e a nós próprios, entre várias outras coisas mais ou menos chatas. Os antídotos para a realidade da nossa vida podem ser muitos. Há quem recorra à bebida, ao tabaco, drogas, saídas daquelas muito wild para a noite citadina, e pasme-se, até ao sexo. É verdade senhores ouvintes, até o sexo pode ser um escape. Nem que seja com a vizinha do lado. O pior é convencer a esposa de que deslocámos uma vertebra e a bondosa senhora estava apenas a realizar uma massagem com um óleo especial que comprou a um indiano que calhou a passar pela praia de Carcavelos enquanto apanhava um Solzinho.


Tudo isto são complementos. Nada destas coisas funcionam se não conseguirmos encontrar o nosso equilíbrio e sorrir perante a adversidade. Mesmo na estrada para o Inferno, apesar de pensosa por vezes, se não aproveitarmos a viagem, acabamos por perder tempo precioso das nossas vidas e acabar apenas a recordar o que de mau aconteceu. Risco elevado de encher o coração de ódio, mágoa e toda a panóplia de sentimentos negativos. À hora da morte, tudo o que poderemos dizer será “ainda bem que esta merda está a acabar”.


Respostas não as tenho. Perguntas são mais que muitas. Vou afinando os meus pontos de vista à medida que vou metendo a pata na poça. A cada kilometro que passo nesta estrada, a velocidade diminui sob o peso da bagagem que vou adquirindo. Até pode ser que nunca saia desta estrada, mas enquanto puder, nem que seja em espírito, tentarei viver com paixão, montado numa chopper poeirenta, de barbão ao vento e com o cabelo em chamas.

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