domingo, outubro 09, 2005

Barreiras


Por mais que se queira que o caminho seja linear, tal não acontece. Existem sempre obstáculos na vida.

Quando nos surge um pela frente podemos superá-lo com facilidade se já estivermos habituados a ele. Quando o tipo de obstáculo é diferente do que esperaríamos encontrar, aí é que surgem as complicações.

Quebra-se o ritmo normal das nossas vidas, há que parar e analisar bem o que temos à nossa frente porque se uns obstáculos são para serem atravessados, outros devem ser transpostos e ainda existem os que devem ser evitados.

Por vezes permitem-nos ver o que está do outro lado. As nossas fantasias crescem em campo fértil. É quase como uma criança que se encontra a olhar para uma montra da loja de doces. Porque raios deveria estar aquele vidro alí? É que não dá mesmo jeito nenhum.

A criatividade, a abtsracção e a capacidade de relacionar experiências passadas permitem ultrapassar muitos dos obstáculos que nos surgem pela frente, mas e quando não estamos bem e é dificil lidar com a informação que nos chega? A criança da loja de doces ficou estúpida de repente e cede apenas aos seus instintos. Voltamo-nos para a satisfação das necessidades mais básicas sem ponderar consequências nem equacionar as necessidades de quem nos rodeia.

Esta é a barreira mais complicada, a que se encontra dentro de nós. Somos nós que a edificamos e jogamos fora os planos da sua construção. É bem provável que o medo se instale depois de a frustração ter surgido. Pior ainda, a auto-confiança esfuma-se a cada vez que tentamos vencer o obstáculo e não conseguimos.

Claro que é complicado vencer barreiras se não estivermos convictos de que é mesmo a sério e que somos capazes. Mas quando aquela garra não está lá, acaba por ser como a bola de neve a descer a encosta. Quanto mais desce, mais acelera e maior se torna. Assim é o medo do fracasso.
Que fazer então?

Voltar atrás, ao terreno firme das nossas convicções. A formação que recebemos ou que nos demos a nós mesmos, a pedra basilar que é o nosso carácter são os pilares que nos sustentam em alturas de crise. Mas é preciso voltar atrás, sem qualquer dúvida. Isso requer tempo, e tempo é uma coisa que um adulto muitas vezes não tem. Falta esse espaço para poder voltar a ser criança.

As crianças estão mais libertas de preconceitos do que os adultos, não complicam tanto as coisas. Se por um lado lhes falta a experiência para resolver assuntos mais complexos com muitas variáveis, por outro são mestres na resolução de situações mais simples. O seu pensamento mais linear, liberto de pressões, permite-lhes ver o mundo com uma palete de cores básicas. Não é tão rico de elementos nem de detalhes, mas em situações destas, essa riqueza só atrapalha porque nos dispersa a atenção do que é na realidade importante.

É sempre bom termos crianças por perto. São elas que muitas vezes acabam por nos mostrar aquilo que já nos esquecemos. Que certas barreiras não existem na realidade, são apenas a projecção dos nossos medos. Elas chama-lhe bicho papão, e nós adultos pagamos a um psicólogo para nos ensinar nomes mais complexos.

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