sexta-feira, outubro 21, 2005

Vergeef Sunshine


Atitudes precipitadas todos nós tomamos numa ou noutra altura nas nossas vidas. Por vezes não somos muito justos quando pressionados pela vida ou por quem nos rodeia.

Creio que é preciso ter a presença de espírito para nos colocarmos em causa, avaliar as nossas acções e pedir perdão sempre que escorreguemos.

Por isso Sunshine, peço-te humildemente que me desculpes pela minha precipitação e impaciência.

Sou humano, estas são algumas das minhas limitações. Este post é muito privado no sentido que carrega, eu sei. Mas faço-o por aqui como poderia fazer em frente a qualquer outra pessoa.

Tens uma grande importância para mim, a tua amizade ultrapassa o conceito de valor.

Na impossibilidade de te entregar uma flor pessoalmente, deixo-te esta que é entregue pelas mãos mais bonitas que conheço, as de uma criança. Com a flor vai uma mensagem de esperança de um futuro que tu tens trabalhado para moldar à tua medida.

Parabéns pelo exemplo que dás. Tens-me mostrado na práctica que a coragem é enfrentar as dificuldades, levar pancada e ainda assim não desistir. Obrigado por tudo.

terça-feira, outubro 11, 2005

Adeus Valentim

Pequenos momentos de “normalidade” são das coisas que nem damos conta, mas que acabam por compor um todo que chamamos de felicidade.

É fácil desprezar a importância de estarmos com os amigos num bar, um passeio à beira-rio, um dia de trabalho sem chatices, até mesmo acordar de noite para mudar a fralda de um bebé e embalá-lo novamente até adormecer.

Não é apenas fácil desprezar a importância como também é fácil fazer outra coisa ainda: reclamar.

A saturação que certas tarefas nos impõem conduz por vezes a atitudes e palavras irreflectidas que só são sentidas no calor de uma discussão. Infelizmente o tempo é um mestre cruel, e não permite voltar atrás após uma acção da qual não nos orgulhamos.
Está feito e pronto, arca-se com as consequências.

Uma coisa posso garantir, são destas pequenas coisas que nos irritam e maçam que vamos sentir falta quando um dia desaparecerem. Mais ainda se forem características de um amigo, colega de trabalho ou até familiar. Aquelas atitudes parvas que dizemos não ter paciência para aturar, mas que vamos aturando sempre, alguém que é distraído a ponto de se esquecer dos seus próprios interesses e que com isso nos leva ao limite da paciência, aquela gargalhada estridente que chama a atenção de toda a gente num lugar publico… e no entanto, no dia em que os responsáveis por essas atitudes desaparecem, fica um vazio que dá lugar ao que não queremos admitir, mas que se chama de saudade. É a falta daquela pessoa que se foi, o lugar vago que dantes era sempre preenchido por alguém, um silêncio onde dantes havia uma conversa ou discussão.

Depois de termos a consciência de que não se pode voltar atrás, e de que a perda é definitiva, vem um turbilhão de emoções de tal forma intenso que as lágrimas surgem como resposta fisiológica. Após o choque inicial a vida continua dentro da normalidade possível.

Lições a tirar de episódios destes existem, tal como de qualquer situação a partir da qual queiramos aprender. Uma que posso apontar, é que não devemos esperar que a felicidade seja um único acontecimento que aparece como que por artes mágicas e deixa toda a gente com um sorriso de orelha a orelha. Podem existir casos assim, mas para a maioria das pessoas, senão a totalidade, a felicidade é um conjunto de pequenas situações que nos ajudam a vencer cada dia. E não são apenas as que nos dão prazer. Mesmo o que classificamos de negativo acaba por ser parte da nossa felicidade na forma de experiência de vida.

Há que aproveitar muito mais o que vivemos, levar a vida com mais calma e paciência, dar menos importância ao que nos parece grave, até porque na maioria das vezes não é.

Não são as situações da vida que são graves, os olhos de quem as vê é que as tornam assim.

Estou ainda a despedir-me do meu avô que perdi no passado dia 25. Este texto está grandemente ligado a esse sentimento que vai e vem conforme olho para os objectos que lhe pertenceram. As memórias assaltam-me e entre lágrimas e sorrisos lá vou recordando aquele que foi um homem com H. Limitado em muitos aspectos, mais teimoso que uma mula e maldizente como só ele, ainda assim foi um trabalhador incansável que sem dar luxos à família, nunca deixou no entanto que ninguém debaixo do seu tecto passasse necessidades.

Valentim de seu nome, deu o seu ultimo suspiro quando a minha avó lhe desfazia a barba, morrendo nos braços da mulher que toda a vida foi sua companheira e que cuidou dele até ao ultimo minuto, por vezes sabe-se lá a que custo. Era terrível de aturar.
60 anos em comum, não se assiste já com facilidade.
18 anos de mina nas pirites alentejanas, uma fuga para a cidade em busca de vida melhor, 15 anos numa secção de pintura numa fábrica de automóveis, e sempre tendo a sua horta da qual cuidava até que já nem a Lua desse para ver o que fazia.
Muitos dias em que se esquecia de comer, tal era o vicio de amanhar a terra, de ver as plantas germinarem e no fim colher os frutos. Nunca se tratou muito bem, e os esforços a que se sujeitou cobraram uma pesada factura nos últimos anos.

Assim partiu um homem que me deu terreno fértil onde estabelecer as minhas bases. Foi por causa dele em parte que não cheguei até hoje a saber o que é ter fome. Por duas vezes abriu as portas da sua casa para que eu pudesse ter um tecto.

É com imensa gratidão e saudade que vos falo aqui de Valentim Ferreira Rodeia, alentejano e meu avô.

domingo, outubro 09, 2005

Barreiras


Por mais que se queira que o caminho seja linear, tal não acontece. Existem sempre obstáculos na vida.

Quando nos surge um pela frente podemos superá-lo com facilidade se já estivermos habituados a ele. Quando o tipo de obstáculo é diferente do que esperaríamos encontrar, aí é que surgem as complicações.

Quebra-se o ritmo normal das nossas vidas, há que parar e analisar bem o que temos à nossa frente porque se uns obstáculos são para serem atravessados, outros devem ser transpostos e ainda existem os que devem ser evitados.

Por vezes permitem-nos ver o que está do outro lado. As nossas fantasias crescem em campo fértil. É quase como uma criança que se encontra a olhar para uma montra da loja de doces. Porque raios deveria estar aquele vidro alí? É que não dá mesmo jeito nenhum.

A criatividade, a abtsracção e a capacidade de relacionar experiências passadas permitem ultrapassar muitos dos obstáculos que nos surgem pela frente, mas e quando não estamos bem e é dificil lidar com a informação que nos chega? A criança da loja de doces ficou estúpida de repente e cede apenas aos seus instintos. Voltamo-nos para a satisfação das necessidades mais básicas sem ponderar consequências nem equacionar as necessidades de quem nos rodeia.

Esta é a barreira mais complicada, a que se encontra dentro de nós. Somos nós que a edificamos e jogamos fora os planos da sua construção. É bem provável que o medo se instale depois de a frustração ter surgido. Pior ainda, a auto-confiança esfuma-se a cada vez que tentamos vencer o obstáculo e não conseguimos.

Claro que é complicado vencer barreiras se não estivermos convictos de que é mesmo a sério e que somos capazes. Mas quando aquela garra não está lá, acaba por ser como a bola de neve a descer a encosta. Quanto mais desce, mais acelera e maior se torna. Assim é o medo do fracasso.
Que fazer então?

Voltar atrás, ao terreno firme das nossas convicções. A formação que recebemos ou que nos demos a nós mesmos, a pedra basilar que é o nosso carácter são os pilares que nos sustentam em alturas de crise. Mas é preciso voltar atrás, sem qualquer dúvida. Isso requer tempo, e tempo é uma coisa que um adulto muitas vezes não tem. Falta esse espaço para poder voltar a ser criança.

As crianças estão mais libertas de preconceitos do que os adultos, não complicam tanto as coisas. Se por um lado lhes falta a experiência para resolver assuntos mais complexos com muitas variáveis, por outro são mestres na resolução de situações mais simples. O seu pensamento mais linear, liberto de pressões, permite-lhes ver o mundo com uma palete de cores básicas. Não é tão rico de elementos nem de detalhes, mas em situações destas, essa riqueza só atrapalha porque nos dispersa a atenção do que é na realidade importante.

É sempre bom termos crianças por perto. São elas que muitas vezes acabam por nos mostrar aquilo que já nos esquecemos. Que certas barreiras não existem na realidade, são apenas a projecção dos nossos medos. Elas chama-lhe bicho papão, e nós adultos pagamos a um psicólogo para nos ensinar nomes mais complexos.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Aprender a voar


Qualquer aprendizagem pressupõe os seus problemas. Todos sabemos que a vida é uma aprendizagem constante, e no entanto por vezes tendemos a esquecer essa evidência.

Cada vez que iniciamos uma nova actividade ou período na vida, temos de dar os primeiros passos. É complicado, vamos dar uns tombos até descobrirmos como manter o equilíbrio. E apesar de após algum tempo já conseguirmos fazer boa figura, tal não significa que os tombos não tornem a acontecer.

Mais complicado do que aprender a andar é aprender a voar. O chão é duro e o choque com a realidade é proporcional com a altura a que nos elevámos. Isto porque como a natureza não nos dotou de asas ou outra qualquer caracteristica que nos permita elevar nos céus, o nosso vôo será aqui uma metáfora para o sonho, tal como na história de Ícaro.

Sonhar e obter sucesso depende de uma exultante loucura acompanhada de uma sorte incrível, ou de um esforço metódico em que a preparação e o crescimento sustentado formam os alicerces de tudo o que se irá construir.

A diferença entre Ícaro e Dédalo encontra-se essencialmente na manutenção do sonho concretizado. Dédalo, mais racional, experimenta o vôo e ao observar o que o rodeia, mede os perigos e mantêm-se longe do Sol, onde o calor poderia derreter a cêra que unia as penas com as quais construiram as suas asas. Ícaro, com a irreverencia e tolice próprias da juventude, deixa-se atrair pelo brilho do Sol e voa cada vez mais perto até que o inevitável acontece.

Existe nesta história um 3º personagem de quem nunca se ouve falar. O Homem que ficou no chão. Esse nunca chegou a saber o que é estar acima dos montes, elevar-se na perseguição do sonho, simplesmente porque nunca ousou a tal.

Complicado para mim não é a possibilidade da queda, é não chegar a experimentar o vôo. Assim que abandonamos o chão não há como voltar atrás sem ser com algumas nódoas negras, ou mais concretamente, um sentimento de frustração por não ter tentado ir até ao fim. É dar aos braçinhos e voar.

Quer nos mantenhamos no ar a uma altitude segura, ou voemos para lá dos limites de segurança e nos estatelemos no chão, no final, teremos pelo menos uma história em que os protagonistas fomos nós, e não alguém que conhecemos.

Qualquer animal excepto o Homem sabe que a vida só tem um propósito... aproveitar ao máximo. Está na hora de aprender umas coisinhas.

Termino este com uma frase de Randall G Leighton (não sei quem é, não façam perguntas difíceis).

"Work like you don't need the money, love like you've never been hurt and dance like no one is watching."

quarta-feira, outubro 05, 2005

Destinos

Existe sempre para onde ir, apesar de muitas vezes nos sentirmos perdidos.

As nossas vidas são recheadas de objectivos, uns mais racionais do que outros. Uma carreira profissional, um hobby, lazer, viagens.

Existem também aqueles que nos fazem passar por cima da racionalidade, e que de tão importantes acabam por nos fazer colocar em segundo plano o que já tinha anteriormente sido definido.

Frequentemente trata-se de uma paixão, ou um amor tão profundos que cada pensamento vai para aquela pessoa sempre que as tarefas do dia-a-dia não nos exigem total concentração.

Chega-se a parar o que se está a fazer, em sobressalto só porque o telemóvel anunciou uma mensagem. Faz-nos levantar a meio da noite para escrever só porque não é possível estar na sua presença, é tarde demais para telefonar, mas não se conseguem calar as palavras que pulam dentro do coração, ansiosas por sair; e que a boca teimosamente retêm nas alturas mais cruciais.

Atravessar-se-iam oceanos se a resposta fosse certa, mas o receio de sofrer novamente acaba por afogar as palavras e acções. As incertezas são o que de pior existe quando se ama alguém.

Por vezes tenta-se de forma algo timida uma aproximação, que acaba por não ser entendida como tal, ou rejeitada de forma delicada. A diferença é tão pequena que acaba por não se notar e a incerteza mantem-se.

Existe apenas uma foma de escapar ao ciclo vicioso. Soltar amarras, atravessar o oceano do medo, enfrentar o Cabo das Tormentas, e descobrir que afinal, as tormentas eram apenas fruto da imaginação.

O brilho do Sol nos olhos de quem está apaixonado merece qualquer esforço para ver concretizado o seu desejo de felicidade, e não será o receio de uma resposta negativa que deverá impedir quem quer que seja de se entregar.

As melhores coisas na vida conseguem-se sem rede de segurança. O risco é grande, mas a recompensa é proporcional. E quando se reconhece um destino à nossa frente, há que segui-lo até ao fim.

Na letra de uma musica que conheço na voz de Johnny Hartman: "... ahhh, for the want of a kiss..."; e quando um beijo justifica arriscar tudo, estamos decerto na presença de um destino que merece ser seguido, e de um sentimento muito especial que deve ser vivido na totalidade, entre a serenidade e a loucura.

terça-feira, outubro 04, 2005

Apreciar a beleza


De cada vez que se liga a TV só mudam os desgraçados, as desgraças continuam a ser sempre as mesmas. É algo que me cansa e que tristemente acaba por tornar as pessoas algo insensiveis ao sofrimento alheio. Torna-se comum, banal.

A receita dos meios de comunicação social é simples: sangue e tripas à vista, escândalos e futebol é igual mais audiências. Notícias de choque, apresentadas da forma mais espetacular possível, sem olhar ao facto de que existem crianças a assistir nos horários nobres.

A minha resposta à saturação que tudo isto me causa é nem ligar TV ou rádio. Mas ainda me lembro de quando era criança. Tempos em que se podiam assistir a programas educativos e que contribuiam para uma formação equilibrada das crianças, em que a violência não era o ónus das histórias.

Programas como a abelha maia, os marretas, a rocha dos fragles, séries cómicas assentes em situações do dia a dia, que além de confrontarem os espectadores com dilemas morais, nos faziam pensar em problemas que facilmente podiam bater-nos à porta.

Nessa altura podia estar-se mais descansado com o que as crianças assistiam. Hoje qualquer pai conscencioso terá receio das programações que passam nos canais disponiveis. Confesso uma certa nostalgia pelos tempos idos.

Na impossibilidade de voltar atrás no tempo, existe sempre uma coisa que podemos fazer quando o cansaço atinge o ponto de saturação. Parar e apreciar o que de belo existe ao redor. Frequentemente a natureza presenteia-nos com visões espantosas, às quais nem sempre damos a atenção devida. Sair das nossas rotinas citadinas nem que seja ao fim de semana pode proporcionar essas paragens.

Amanhã é feriado. Para quem possa, um passeio pelo campo a apreciar a transformação do Verão em Outono é a sugestão que deixo. Para quem tenha filhos, forcem um pouco os afazeres que se deixam para estas alturas e aproveitem para levarem os miudos a verem que existe mais no mundo do que apenas o DragonBall, e que surpresa das surpresas, até nem está muito longe de casa. Explorem os espaços verdes, respirem ar livre de poluentes, sentem-se debaixo de uma árvore e tentem identificar qual é a ave que produz os sons que se ouvem.

Sentado em casa é fácil de ver apenas a parte feia do mundo. É urgente ver alguma coisa de bom e de puro.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Start me up


Ora cá estamos. Sunshine, começa aqui finalmente uma pequena aventura. Tanta vez que te prometi o começo e finalmente cumpro.

Um dos receios era o de ficar viciado nisto e dedicar mais tempo do que aquele que realmente devo. Mas se não fizermos as coisas que queremos devido a receios, quando é que deixamos de sobreviver?

Terei tempo de escrever aquilo que o título do blog sugere, pensamentos que ficam a martelar na cabeça.

Esperemos que consiga atingir qualidade suficiente para agradar a quem lê a ponto de querer comentar e assim contribuir para gerar mais pensamentos martelantes para a carola.