segunda-feira, março 06, 2006

Tocar corações


Consegui finalmente ver um filme que a Optimus teve a amabilidade de me enviar pelo Natal passado. Embora tenha já passado a quadra natalícia, o Natal é quando o homem quer, não é?

É um filme típico sobre o Natal, um S. Nicolau que perde a memória e coloca assim o Natal em perigo. Passam-se muitas coisas, o filme não tem de maneira alguma uma história complicada nem muito elaborada. É atrozmente previsivel, mas quem quer saber disso quando se trata de tocar corações?

É mais uma daquelas histórias em que a certa altura ficamos com um nózinho na garganta quando identificamos situações semelhantes às nossas experiências, desejos, ansiedades e outras coisas que nos fazem dançar aquela lágrimazinha no canto do olho. Resta referir que isso acontece porque estava alguém a limpar o pó ao meu lado e entrou-me qualquer coisa na vista.

Nunca tive horas para nada. A minha mãe sempre se passou comigo por comer às horas mais impróprias, tomar banho mesmo antes do almoço ou do jantar, vestir a roupa para sair à noite depois de passar um dia inteiro de pijama, entre variadissimas outras manias minhas. Uma delas é nunca oferecer presentes nas alturas em que se convencionou que se devem oferecer. Detesto esse tipo de "obrigações" sociais, e como tal, recuso-me a segui-las. Prefiro oferecer quando posso e quando me apetece. Uma rosa, um beijo, um agradecimento, ou uma prenda feita por mim ou comprada. Mas quando eu quero oferecer. E porque me lembrei dessa pessoa, não porque o calendário diz que é dia de desembolsar umas massas porque fulana ou beltrano fazem anos.

Se pensam que dar uma prenda é para mim um acto simples, desenganem-se. É um gesto muito especial. Para mim, oferecer uma prenda implica conhecer bem uma pessoa, saber os seus gostos e desejos, o que lhe faz falta. É um acto de alguma intimidade que representa a existência de laços de alguma importância. Como tal, dou em doido cada vez que vou ofertar alguma coisa. A não ser que veja alguma coisa que me faz lembrar aquela pessoa, entro na loja e compro-a.

Seja como for, é sempre especial. E se não for, não há prenda para ninguém. Porque acima de tudo, devem existir sentimentos ligados ao objecto, que não é mais do que um veículo para as nossas memórias. Momentos bonitos e agradáveis das nossas vidas, instantes que nos fazem sentir mais tarde um calorzinho bom no peito. No fundo, o objecto não tem um valor real. O que conta são os sentimentos que ele nos faz relembrar. Olhamos para um objecto qualquer e recordamos um amigo. É por isso que alguns objectos são insubstituiveis. Porque aliados a eles encontram-se memórias de momentos que foram muito importantes para nós.

Um exemplo pode ser um presente de um filho. Por mais tosco que pareça o que a criança fez, nada que pudesse ser comprado numa loja teria tanto valor como aquilo que mãos pequenas fizeram, a pensar em alguém que amam, e que quando oferecem, trazem consigo um brilho nos olhos que nada supera.

Quando se tocam corações, deixa-se uma marca que não pode ser apagada. Creio que é isso que o tão falado espírito natalício pretende transmitir. Que se toquem os corações de quem nos rodeia com gestos, atitudes, amizade e amor. E é por isso que o Natal é quando nós quisermos. Porque todos os dias são bons para ajudarmos um amigo com problemas, para beijarmos quem amamos, preparar um jantar para aliviar quem chega a casa de cabeça quente e sem condições para mais do que ir para a cama, para colocar um filho no colo e conversar com ele, para colocar um sorriso no rosto de quem deixou de acreditar na felicidade. Não há loja que venda isto. Tocar corações não é transaccionável. Acontece quando estamos disponíveis para os amigos. Quando damos de nós sem esperar um retorno, e ficamos felizes por alguém a quem demos a mão e que saiu do buraco. A isto não se devia chamar magia de Natal. Devia acontecer todo o ano. E hoje é um dia tão bom como outro qualquer para practicar isso.

"Há lágrimas na natureza das coisas e a certeza do efémero toca-nos o coração" - Vergílio

4 comentários:

Anónimo disse...

k é k eu hei d dizer...tu dissest td...pk sao os objectos e PRINCIPALMENTE os momentos e as palavras k nos fazem arrepiar, que nos trazem felicidade...akelas coisas k recordamos knd tamos num dia menos bom. Sao essas coisas k preenchem os nossos dias k nos dao vontade de ir mais alem, de continuar. Axo k é isso o natal...tocar coracoes cm tu dizes....pk s pode mm ver o natal neste texto k escrevest. No sentimento k transmites...nas tuas ideias e opinioes =)

bjooooooo*********************

Anónimo disse...

Tocáste no meu coração...........
Lena

Sunshine disse...

Os momentos certos para oferecer algo a alguem é quando o coração assim o intende e não por obrigação social... muito bem escrito!

Pandora disse...

Sunt lacrimae rerum et mentem mortalia tangunt (Eneida, I, 462)