É incrivel a forma como o ser humano pode ser resistente à inteligencia. Trabalhar em equipa deveria ser uma forma de estar, em que a informação fosse partilhada entre os membros, as sugestões e as criticas encaradas de forma natural e aceites sem que as pessoas se sentissem atingidas pessoalmente.
A quantidade de indefinições e contradições existentes são decerto responsáveis por grande parte dos problemas que se encontram na empresa típica. Basta andar nisto uns aninhos e ter os olhos abertos para perceber que este mundo é tudo menos pacífico, que as pessoas são hipocritas, e que lhes são exigidas coisas completamente contraditórias, consoante a situação. E se não formos capazes de ser máquinas com um comutador ON/OFF, não somos bons profissionais.
Mesmo numa empresa liberal e com um modelo de hierarquia horizontal, as coisas só funcionam se as pessoas estabelecerem préviamente um conjunto de regras entre si, que permita aos departamentos funcionarem sem atritos. Como se consegue isso? Boa pergunta.
Vamos ver se consigo fazer-me entender... Quando se possui uma empresa dividida por departamentos, nunca se deve deixar escapar que o departamento A é melhor ou mais importante do que o departamento B. Os elementos de A podem ficar cheios de vaidade, mas os de B sentirão isso como uma facada nas costas. Quanto maior a carga de trabalho, pressão e responsabilidade, maior a sensibilidade das pessoas em relação às criticas que lhes fazem. Não deveriamos ser assim. Não é suposto sermos permeáveis às criticas e aceitarmo-las com naturalidade? Talvez. Mas tal não ocorre porque à medida que vamos sacrificando energias e tempo de lazer/repouso, disponibilidade para amigos e família, a paciencia diminui e a irritabilidade aumenta a um ritmo galopante.
Chamem-lhe stress, pressão, o que quiserem. Certo é que as pessoas não fazem as pausas necessárias para descomprimir de forma a manterem-se saudáveis e em forma psicológica e emocional. O dinheiro é como o oxigénio. Permite-nos viver, mas também nos vai matando já que a oxidação é a pricipal responsável pelo envelhecimento. Trabalhamos para ganhar dinheiro, mas vamos morrendo aos poucos à medida que sacrificamos o nosso bem estar para o obter.
Voltando à vaca fria, temos então uma empresa típica. Ocorrem toda a espécie de problemas sobretudo pela falta de um único método de trabalho comum a todos os elementos. As tais regras definidas de que falei a inicio. Se retirarmos o exemplo do código civil, as regras de funcionamento em sociedade estão em suporte escrito. Porquê? Para que quando tivermos dúvidas as consultemos. Nas empresas sucede a mesma coisa. À muito que se inventaram os manuais da qualidade, em que a empresa regista os seus procedimentos. Documentar é coisa de que ninguém gosta muito hoje em dia. Não sei quando foi que perdemos essa caracteristica, já que durante a época dos descobrimentos essa foi a forma como guardavamos toda a informação que pudesse vir a ser relevante. É assim que hoje em dia sabemos o que foi feito pelos Portugueses, onde chegámos e os horizontes que abrimos ao mundo civilizado da altura. Existem grandes debates ainda hoje sobre quem fez o quê, e é graças a essa documentação, detalhada ao mais ínfimo pormenor, que conseguimos refutar argumentos de outras nações e fazer prova cabal de que fomos nós que estivemos na linha da frente.
Nada pode ser imutável em termos de procedimentos. O que hoje é verdade, amanhã pode ter de ser adaptado ou completamente revisto. Assim se produz a evolução e o crescimento. O reconhecimento dos erros, a aprendizagem, e a correcção. Mas nem todas as empresas reconhecem os erros. Dessas, apenas uma pequena percentagem aprende com eles, já que é mais fácil criar um bode espiatório, atribuir culpas e demitir essa pessoa. Finalmente, é assustador o que resta. As pouquissímas empresas que corrigem os seus métodos.
À uns tempos atrás tive uma formação sobre qualidade e ambiente. Não foi completamente novo para mim, porque aos 30 anos já levo 15 a trabalhar, ou seja, 50% da minha vida. Passei por muitos sítios e vi toda uma panóplia de políticas de funcionamento. Mas na parte ambiental aprendi de facto algumas coisas bastante interessantes. O conceito mais importante que retive foi o de crescimento sustentado. Quer isto dizer que se deve permitir o avanço da dimensão da empresa, ou dos projectos que esta abraça, quando existirem condições reais para tal. O somatório de anos de esforço e dedicação de muita gente pode ser comprometido com uma má jogada estratégica, especialmente se nos deixarmos embebedar com sonhos de grandeza. Fazer brilharetes hoje em dia é manter a empresa em funcionamento. A concorrência é feroz, e está constantemente à espreita. Qualquer deslize pode comprometer o projecto em mãos, e se este estiver para lá das capacidades normais da empresa, a sua viabilidade também pode ficar comprometida.
Mas existe ainda um detalhe que não deve ser descurado. A consciência das razões pelas quais trabalhamos. Mais do que tudo, essa deve ser a viga mestra da filosofia que nos impulsiona, e que nos leva a todos os esforços que desenvolvemos, quando existem coisas muito mais agradáveis para fazer nesta vida. Trabalhamos para viver? Ou vivemos para trabalhar? Queremos ter acesso a alguns dos prazeres desta vida e por isso necessitamos de dinheiro e de um sentimento de realização? Ou pelo contrário, andamos a fugir de alguma coisa e por isso enterramos a cabeça no trabalho, negando a nós próprios o direito a uma vida saudável? Até o podemos fazer, mas o direito a arrastar os outros para a mesma situação já não existe. Há que respeitar a onda de cada um.
O ser humano existe essencialmente para ser feliz. Dito assim a cru até parece um motivo efémero, mas é minha convicção de que é esta a verdade. Uns são felizes com familia e amigos sinceros, outros com sucesso profissional, outros ainda pelo dinheiro que ganham, e ainda há aqueles que são felizes conseguindo enganar o parceiro do lado e sentindo-se um espertalhão.
É por isso que devemos pensar bem o papel das empresas e dos funcionários sejam eles chefias ou subalternos. Somos todos homens e mulheres, com as mesmas necessidades.
Tudo neste mundo tem o seu papel, embora muitas vezes o subvertamos. Mas sem felicidade, viver não é mais do que um martírio. E não ter felicidade num local onde se passa a maioria das horas que estamos acordados, é qualquer coisa muito complicada.
Nos dias que correm as pessoas pensam nos problemas das efectividades como segurança profissional, e sobre como isso está a desaparecer. Não sei até que ponto as efectividades não foram o que terá arruinado a vida de muita gente, que sem ser feliz, aguentava-se e fazia (ainda faz) das tripas coração. Não sou um poeta lírico que encara a vida na perspectiva romantizada do amor e da cabana. Todos temos de fazer sacrificios em nome do que queremos ter e dar às nossas famílias. Mas também é preciso ter a noção dos limites, manter o respeito por nós próprios e não deixar cair a autoestima a ponto em que precisemos de ajuda para sair do buraco. É urgente ser feliz. Nem que tenhamos de pedir felicidade emprestada a juros incertos se não houver outra saída.
Já nos tempos dos descobrimentos navegámos ao encontro do desconhecido, armados de esperança e coragem. 500 anos volvidos, parece que afinal os tempos não mudaram assim tanto. Exploramos terra, oceanos e estamos no inicio da exploração espacial. Investigamos doenças e descobrimos curas. Somos tecnológicamente avançados, mas continuamos tão perdidos nos nossos corações como o homem das cavernas. Ou será que ainda perdemos alguma coisa pelo caminho? Alguma coisa que ele sabia e que nos esquecemos na nossa ansia de chegar mais longe? Não sabemos para onde vamos, nem sabemos se este caminho será frutuoso. Mas talvez tenhamos um longo caminho a refazer em direcção ao Passado. Seriam eles mais felizes do que nós? Ou esta competição sanguinária é um mal inerente ao ser humano e não conseguimos melhor do que isto? Como qualquer pessoa, tenho mais perguntas do que respostas. E nem sei se as respostas que tenho estão certas.