quinta-feira, agosto 31, 2006

Peter Pan


Já conheceram pessoas que vos parecem ser a personificação do Peter Pan? O termo até foi adoptado pela psicologia, onde define uma pessoa que se recusa a crescer emocionalmente, tendo atitudes de criança como mecanismo de defesa. É qualquer coisa assim do género, não sou especialista.


Conheci à cerca de 2 anos atrás uma pessoa que me fez lembrar a dita figura. Hoje, numa noite em que aturei gente terrivelmente chata, e logo no meu primeiro dia de férias, essa pessoa entrou no bar onde eu estava e num dos seus acessos (que só não estranho porque já vi que é normal nela), pergunta-me que história é essa de lhe chamar Peter Pan. Demasiada gente a meter-se na conversa, com copos a mais já vazios em cima da mesa que tinham feito a sua função para gente já de si é meio chata sem ajuda, fizeram com que eu conseguisse esquivar-me à pergunta de maneira airosa. Ou seja, não respondi. Até porque quem lhe contou isso fez o serviço completo e explicou o porquê da alcunha.


Despedi-me dela chamando-a novamente assim, apesar do ar desesperado de socorro que ela tinha enquanto aturava o bêbado chato. Sei perfeitamente que ela se sabe safar sozinha, bem demais até. Defende-se tanto que é preciso ser um louco para tentar furar as barreiras que ela ergue, ou então estar totalmente apaixonado. Sou louco mas de um tipo de loucura ligeiramente diferente da necessária, e apaixonado por ela não estou. Fazer coisas dessas por desporto já me passou (vantagens de ser cota).


Voltando ao assunto, a menina Pan é alguém que exibe marcas profundas de sofrimento, e que ataca antes de as pessoas terem provado as suas intenções. Não a censuro. Já lá estive. Não é agradável e nem quero voltar a viver assim. Demora até percebermos que as pessoas só nos magoam se lhes dermos essa possibilidade, e que magoar primeiro não é garantia de sairmos ilesos. Outra caracteristica dela é ser uma pessoa de personalidade forte, determinada. Creio que ainda não sabe bem em relação ao que é determinada, mas que o é, é e pronto. No fundo, a imagem que me ficou da menina Pan é a de uma criança que não cresceu por não ter preenchido na sua infância aquilo que é normal uma criança ter, viver e sentir. Ela cresce apenas no estritamente necessário para que socialmente possa relacionar-se com as pessoas em volta e cumprir com os seus deveres perante a sociedade. Tem a sorte de ter amigos que compreendem isto e lhe perdoam muitas das suas derrapagens por entenderem que o seu percurso na vida não tem sido fácil que a aprendizagem realizada foi conquistada a pulso.


Por agora é como um metal forjado. Cheia de escória em volta, o aspecto não é dos mais bonitos. Quando perder a casca grossa, e acabar de ser polida pela vida, quem sabe que metal iremos encontrar? Bronze não é ouro, mas é um liga semi-nobre e igualmente belo se o soubermos apreciar.


Todos temos o nosso valor. As diferenças entre as pessoas podem dificultar o encontro com quem realmente desejamos, mas aumentam as probabilidades que essa pessoa exista. O facto de a maioria das pessoas não ser exactamente o que mais desejávamos encontrar, não significa que sejam más ou inuteis. Se tudo fosse ouro, esse metal acabaria por perder o seu carácter especial por falta de termo de comparação. E já vi trabalhos lindissimos feitos com outras ligas metálicas, em que só as formas, o cuidado como foram trabalhadas pode exceder em muito o valor do ouro, que assente no seu valor de base, talvez até nem seja na maioria dos casos trabalhado até que se torne uma obra de arte.


Exigir dos outros que sejam aquilo que não querem ou não estão preparados para ser na altura é em si um acto de violência. Pode ser uma violência motivada pelo amor para forçar um crescimento necessário, mas aí há que saber quando parar, antes que acabemos por ferir irremediávelmente os Peter Pan que existem por esse mundo fora. Está no seu direito crescer quando bem entenderem.

1 comentário:

Crezia disse...

Guilty... vim parar ao teu blog quando pesquisava imagens do Peter Pan. Motivo? Sinto-me um...